sexta-feira, 1 de março de 2013

Palavras dela - O melhor japonês e mais um clichê romântico

Sabe aquelas histórias que você começa a ler e não consegue mais parar? Bom, a Lara tem o dom para a coisa! Hoje as palavras são (como ela mesma define), das aventuras amorosas de uma solteira em São Paulo nos dias de hoje.
Respira fundo e vem:

"Pedimos sake quente. Não podia imaginar que estava no Brasil. A decoração minimalista mas ao mesmo tempo aconchegante, talvez por conta da iluminação bem projetada, me transportava para o sudeste asiático, especificamente Singapura.
- Li críticas muito boas a respeito da casa. Uma bloggueira da high society classificou como o melhor “japonês” de São Paulo... Obrigada pela sugestão e por me trazer aqui.
Ele estava tirando sua jaqueta de couro preto a la herchcovitch e colocando-a nas costas da cadeira. Vestia uma camiseta preta, desbotada o suficiente para ser “cool”. Ele sorriu e começamos a conversar sobre o óbvio: o que estávamos fazendo lá afinal? Nunca tínhamos nos encontrado na vida. Nossa única conexão tinha sido via facebook, com as honras de um primo meu que tinha estudado na infância com ele.
A história é curta, assim como um minuto. E por isso mesmo, pode ser infinita também, considerando todas as frações de milésimos de segundos. O resultado era aquilo: eu tinha dirigido por mais de 1 hora até São Paulo para conhecer um cara que possivelmente poderia me ajudar a conseguir um emprego no meio publicitário. Era loucura? Sim e não. Não, pois a virginiana neurótica dentro de mim tinha feito todos os tipos de pesquisa a respeito dele, inclusive deixando de alerta meu amigo da PM, caso ele recebesse algum código de alerta meu. Mas, sim, estava solteira, de coração aberto e com os satélites todos em órbita, em pleno funcionamento.
Minha história de vida foi como uma conversa de elevador com o presidente:
- Trabalhei mais de x anos fora do Brasil como consultora de TI. Morei em Toyohashi, Londres, Houston, Singapura e voltei para o Brasil depois de uma crise existencial profunda. Larguei tudo para tentar me encontrar. Voltei a morar com os pais, me dediquei a fotografia, trabalhei em revista, tentei abrir uma empresa, tomei muitas porradas e hoje estou falida financeiramente. Entretanto, encontrei a luz divina e transcendental no meu MBA em Marketing e hoje tenho a plena certeza de que quero morrer trabalhando com isso.
- UAU. Desculpe a pergunta, mas quantos anos você tem?
- Sou cinco anos mais nova que você...
2 segundos de silêncio e o meu mini-minúsculo-copo de  sake tido sido engolido e voltava à mesa sem um pingo da bebida. Então eu disse:
- É que eu fiz uma certa pesquisa a seu respeito... afinal, você bem que poderia ser um maníaco de elite. Então tive que me resguardar.
Ele riu.
- Então você tem 29 anos? Achei que você era bem mais nova... uhmm... desculpe, mas aparentemente eu lhe daria uns 25.
(meus olhos se arregalaram! - e uma japonesa pode fazer isso)
- Que ótimo! quero dizer, obrigada... mas conte-me sobre VOCÊ.
Definitivamente, me arrependo desse pedido. Passei por uma longa sessão de arrepios.... arrepios que não deveriam acontecer num primeiro encontro. Eram arrepios de cumplicidade... Ele tinha a história de vida mais impressionante que eu tinha ouvido de um homem real, de carne e osso, e que estava bem na minha frente.
Ele me contou sobre como ele fez seu primeiro programa de computador aos 6 anos de idade. (Pense em 1983 no Brasil. O governo tinha declarado maxidesvalorização do cruzeiro, Nelson Piquet tinha se tornado bicampeão mundial de Formula 1, Clara Nunes falecia e um casal de japoneses do interior de São Paulo recebia com alegria o nascimento de uma menina. Era eu! =). 7 anos depois, em 1990, quando eu ganhava meu primeiro computador, a Microsoft lançava o Windows 3.0 e era suportado pelo processador 386, transformando os PCs em máquinas multifuncionais. Nessa época, ELE já estava sendo treinado para ser campeão de Kung-Fu.
Apesar da genialidade em ciências exatas e aptidão para os esportes, ele escolheu sua carreira pelo desafio. Foi estudar cinema. E nesse momento, veio a primeira onda de levantamento de pêlos: “como era possível alguém ser tão imprevisível como eu?”. Esse era meu segredo com o terapeuta! Tinha passado grande parte da minha vida tomando decisões só para sair fora da minha zona de conforto, só pelo prazer de me expor ao desafio e testar minha capacidade... “Como é que era tão natural para ele falar sobre isso?”
Ele se formou e apesar da carreira promissora como cineasta, quando se deu conta, estava trabalhando em uma agência de publicidade. Já estava “velho” para o cargo de estagiário e por isso mesmo foi provar ao mundo o seu valor. Ganhou mais de 10 leões de Cannes e outros grandes prêmios da área. E justamente quando abriu sua própria agência, afiliada de um grande nome da propaganda mundial, teve que dividir o seu tempo entre a separação dos seus pais e enfrentar o câncer da namorada. Por mais de 3 anos, dedicou sua vida exclusivamente aos outros.
As ondas de arrepio continuavam em mim... E a vida dele também. Após um longo período sem férias, e quando a falta de papel higiênico tornou-se motivo para aflorar lágrimas de desespero, ele finalmente tomou a decisão de querer fazer alguma coisa que genuinamente era um desejo dele (para provar para si mesmo que seu ego ainda estava lá, existindo no limbo que ele mesmo tinha criado) - ele decidiu voar sobre o limite da terra em um caça russo.
- O quê?
- É exatamente isso que você ouviu. Desde pequeno fui apaixonado por máquinas. Voar era um sonho de criança. Conhecer o limite da terra era o que eu mais me identificava naquele momento.
- E como foi tudo isso?
- Supersônico!
E depois disso, ainda me contou que era professor, escritor, músico, e que cozinhava bem... E falava japonês - esse tinha sido um dos últimos presentes para a ex-namorada, cujos pais eram nipônicos e não entendiam muito bem o que ele falava.
Estão prestando atenção???  EX-namorada! - Ele estava SOLTEIRO.
O que mais eu poderia querer naquela noite???? Não tive dúvidas. Estava aficionada, apaixonada, extasiada. Incrivelmente com os poros rígidos de tanta surrealidade.
Tentei disfarçar, perguntar mais sobre o trabalho dele e tudo mais... então chegamos ao objetivo do encontro.
- Me diga, como posso ajudá-la?
Ele ofereceu ajuda. Disse que poderia me apresentar pessoas bacanas, que poderiam num futuro próximo fazer parte da minha network, e quem sabe me contratar para algum job em marketing. Era tudo o que eu queria, afinal estava lá por isso... E com um sorriso xoxo no rosto eu respondi:
- Obrigada, mas você... não pode me ajudar.
- Como assim? - Ele surpreso, perguntou várias vezes o por quê.
- Não é um desafio. Você simplesmente não pode me ajudar...
Havia um coro dentro de mim: “Não quero mais sua ajuda profissional. Quero você pra mim!”
Que ironia do destino. O que era para ser um encontro com um futuro parceiro de negócios, acabei encontrando o homem que há muito tempo eu estava procurando.
Terminamos o sake. Pedimos outra garrafa. O jantar tinha acabado e então compartilhamos a sobremesa. Fiz questão de dividir a conta, afinal a última coisa que queria expor era minha vulnerabilidade financeira. (ABRE-SE UM GRANDE PARÊNTESES - Eu sei, eu sei! Minhas amigas já fizeram um workshop intensivo para nunca mais eu dar uma de “machona” e dividir a conta com homens....  mas foi inevitável. Meu corpo todo já pedia tanto por ele, que euzinha, no mínimo, queria provar que não precisava dele... não em termos monetários...)
Antes de sairmos, por curiosidade, pequei meu iPhone e fui ver como tudo começou, o que eu tinha escrito quando adicionei ele no facebook... Para nossa surpresa, nosso primeiro contato tinha sido EXATAMENTE (entendeu? e-xa-ta-men-te) 1 ano antes daquele encontro. (Serendipidade ou não?)
Saímos do restaurante, nos despedimos rapidamente pois os carros estavam à nossa espera. E com um beijo no rosto ele se foi." Lara



Boa sexta para vocês! Que o final de semana venha cheio de boas surpresas!

Um beijo!
Imagens: reprodução

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